domingo, junho 15, 2025
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Caramujos-africanos: quais os riscos à saúde humana?

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MOLUSCO TEM SIDO FACILMENTE ENCONTRADO NAS RUAS, CALÇADAS E ATÉ EM QUINTAIS DE CASAS EM SÃO MATEUS, PRINCIPALMENTE NO BALNEÁRIO DE GURIRI

Por

Tatiana Milanez

Repórter

 

Caramujos-africanos não são simples caracóis nativos e inofensivos à população. Eles podem transmitir doenças trazendo riscos à saúde humana, além de causar prejuízos agrícolas. Em São Mateus, sobretudo em Guriri, moradores já observam aumento na quantidade do molusco, que tem sido facilmente encontrado nas ruas, calçadas e até em quintais de casa. Em entrevista à Rede TC de Comunicações, a bióloga e doutora em Zoologia, Vanessa Simão do Amaral explica que o animal pode causar um tipo grave de meningite, a eosinofílica, caso esteja infectado pelo verme Angiostrongylus cantonensis e tenha contato com pessoas.

No entendimento de Vanessa, os caramujos-africanos gostam do calor, logo, as regiões mais quentes são mais propensas à infestação. No entanto, acrescenta a especialista, o molusco é de fácil adaptação, podendo viver e se reproduzir em áreas florestais, restinga e até mesmo em locais semidesérticos, como a Caatinga.

Ministério da Saúde afirma que os caramujos-africanos foram introduzidos no Brasil na década de 80. -Foto: Marvin Ramoz/Divulgação

“É um animal muito resistente, aguenta períodos sem água, a enchentes e vive até mesmo perto do mar, que é o caso de Guriri. É um animal muito resistente e adaptável, come de tudo e ataca todos os tipos de plantação. O caramujo-africano pode ser encontrado em todo o território brasileiro, até no interior, e não apenas nas regiões litorâneas, como se imaginava” – frisa, ao explicar os motivos para o aumento da incidência do molusco em São Mateus.

Contato sem proteção com o caramujo-africano deve ser evitado, diz especialista

 

Em entrevista à Rede TC de Comunicações, a bióloga e doutora em Zoologia, Vanessa Simão do Amaral, orienta à população que, ao encontrar um caramujo-africano, o ideal é realizar a coleta com proteção, fazendo o uso de luvas ou sacos plásticos para evitar uma possível contaminação.

Vanessa Simão do Amaral destaca que os caramujos-africanos demoram até seis horas para morrer efetivamente. -Foto: Divulgação

Ela acrescenta que o extermínio do molusco também deve ser feito de forma correta, com coleta e descarte em local indicado pela Vigilância Sanitária ou por um centro de controle de animais para ser incinerado. “A incineração é a forma mais adequada de eliminar o caramujo-africano, porém, esse processo é muito caro ou inexistente em algumas regiões, então o afogamento é a forma mais efetiva e barata. Enterrar, pisar ou esmagar não mata o caracol africano e seus ovos A alternativa é colocá-lo em sacos, preferencialmente de pano, e jogar em alto mar ou manter mergulhados em água salgada em recipientes fechados. Após cerca de seis horas os indivíduos e os ovos estarão efetivamente mortos” – enfatiza.

 

PREJUÍZO ÀS PLANTAÇÕES

“Os caramujos nativos, no geral, possuem grande importância para o ecossistema terrestre. Mas o caramujo-africano, por ser invasor, possui um papel devastador em plantações, além de competir diretamente com as espécies nativas, podendo causar o extermínio delas. É um caso sério de saúde pública, sanitária e agrícola” – complementa a especialista.

A bióloga Vanessa Simão do Amaral é também pesquisadora no Laboratório de Ecologia Bentônica do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes).

 

Molusco se prolifera em locais úmidos e com matéria orgânica

 

“Guriri é ideal para a proliferação dessa espécie exótica no Brasil há muitos anos, é um local com umidade e matéria orgânica”. A afirmação é do secretário de Meio Ambiente de São Mateus, Welington Secundino. Ele recorda que na zona rural os caramujos-africanos também são muitos.

“A orientação [para a população] é evitar umidade na residência e descartar o lixo corretamente, no horário certo, não deixar espalhado para evitar o acúmulo de matéria orgânica. Se não forem muitos e estiverem em uma área pequena, pode ser feita a catação, desde que as mãos estejam protegidas com luvas ou sacos plásticos. O uso de produtos alternativos também é uma opção, existem iscas para esse tipo de molusco. Uma bem comum é o sulfato de cobre a 2%, barato, eficiente e não tóxico” – assevera Secundino.

Questionado pela Reportagem se a Prefeitura de São Mateus faz algum tipo de controle sobre a incidência do molusco, o secretário municipal de Meio Ambiente afirmou que não é realizado e reforçou a importância de tomar os devidos cuidados com o animal.

 

Origem 

O caramujo-africano, como o nome já diz, é um molusco oriundo da África. Pode pesar 200 gramas e medir cerca de 10 centímetros de comprimento e 20 centímetros de altura. Sua concha é escura, com manchas claras, alongada e cônica. Além disso, sua borda é cortante. Foi introduzido ilegalmente no País na década de 80, no Paraná, com o intuito de substituir o escargot, uma vez que sua massa é maior que a destes animais.

Levado para outras regiões do Brasil, tal espécie acabou não sendo bem-aceita entre os consumidores e também proibida pelo Ibama, fazendo com que muitos donos de criadouros, displicentemente, liberassem seus representantes na natureza, sem tomar as providências.

Sem predadores naturais, tal fator, aliado à resistência e à excelente capacidade de procriação desse animal, permitiram com que esse caramujo se adaptasse bem a diversos ambientes, sendo hoje encontrado em 23 estados. Só para se ter uma ideia, em um único ano, o mesmo indivíduo é capaz de dar origem a aproximadamente 300 crias. (Com informações do Ministério da Saúde.)

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